Considerando o contexto em que vivíamos em 2021, como contra-comemoração do golpe de 64 e ao "descobrimento" do Brasil, em abril resolvi bordar uma série temática como aulas de história. Fiz da semana santa, que sim, neste ano caiu na mesma semana do golpe, uma série de bordados de fotos marcantes da ditadura militar. O objetivo foi ser didática, naquele momento não havia como não falar de coisas como essas, é necessário desmistificar o passado. Trouxe o contexto de cada uma das fotos como evidências de como a ditadura é algo para nunca mais se repetir.
Entre dia do aniversário do golpe e a páscoa esse ano eu separei 5 fotos mais marcantes da ditadura e fiz uma pesquisa sobre elas para bordar. As peças não são separadas da pesquisa... Procurei manter os traços simples porque isso deixa a imagem mais em evidência, usei verde para representar os militares, preto para representar a sociedade civil e vermelho as ferramentas usadas pelos dois lados. O bordado mais difícil de fazer dessa série foi o do assassinato do Vladimir Herzog. A foto em si já é muito chocante, fazer o risco, passar horas bordando... sem nunca esquecer o que ela representa... foi por isso que quando postei o bordado nas redes sociais, a foto de destaque é um detalhe. É por isso que o texto começa com uma denúncia. Quando vou fazer um trabalho fico muitas vezes pensando se estou só me aproveitando de uma onda ou se estou realmente compreendendo o que aquilo significa. Nesse caso, extremamente difícil equilibrar o uso artístico e didático sem sentir que estou explorando, portanto usei um pouco do espaço para dar voz aquilo que queriam censurar, ou colocar como segredo de Estado por 100 anos.
Dando sequência à série histórica e em ação pelo dia dos povos indígenas, bordei o monumento às bandeiras, o puxa-empurra do Ibirapuera, com manchas vermelhas lembrando as manifestações contra a PEC215 em 2013, proposta que altera a demarcação de terras indígenas, insinuando a ideia de sangue com os dizeres Bandeirantes assassinos. Puxando o fio da linha ainda mais atrás, bordei em dois cartões que representam o "descobrimento" do Brasil a expressão "Invasão do Brasil". Esta é uma série em que procuro usar o bordado para conscientizar e politizar sobre o passado.