"As borboletas amarelas invadiam a casa desde o entardecer. Todas as noites, ao sair do banheiro, Meme encontrava Fernanda desesperada, matando borboletas com a bomba de inseticida. "Isto é uma desgraça", dizia. "Toda a vida me disseram que as borboletas noturnas chamam o azar." Certa noite, enquanto Meme estava no banho, Fernanda entrou no seu quarto por acaso e havia tantas borboletas que mal se podia respirar. Apanhou um pano qualquer para espantá-las e seu coração gelou de pavor ao relacionar os banhos noturnos da filha com os cataplasmas de mostarda que rolaram pelo chão. Não esperou por um momento oportuno, como fizera da primeira vez. No dia seguinte, convidou para almoçar o novo alcaide que, como ela, tinha descido do páramo, e pediu a ele que ordenasse uma guarda noturna para o quintal, porque tinha a impressão de que estavam roubando as galinhas. Nessa noite, a guarda abateu Mauricio Babilonia quando levantava as telhas para entrar no banheiro onde Meme o esperava, nua e tremendo de amor, entre os escorpiões e as borboletas, como havia feito quase todas as noites dos últimos meses. Um projétil incrustado na coluna vertebral reduziu-o à cama pelo resto da vida. Morreu de velho na solidão, sem uma queixa, sem um protesto, sem uma só tentativa de deslealdade atormentado pelas lembranças e pelas borboletas amarelas que não lhe concederam um instante de paz e publicamente repudiado como ladrão de galinhas."