Bor-dados sobre a pandemia em Ibitinga

bor-dados casos de COVID
bor-dados mortos por COVID

Porque utilizei o bordado para apresentar essas informações? 
Queria trazer para o mundo material essas informações que circulam no meio digital.
Um gráfico produzido em imagens digitais teria as mesmas informações, mas não teria o mesmo impacto sobre quem o produziu, sobre quem o vê. Além do tempo e do trabalho para traduzir as informações dos boletins em uma imagem de fácil apreensão da nossa realidade, há também o tempo e o trabalho da atividade manual, artesanal.  Cada ponto no tecido é um retorno do número da planilha a uma materialidade do mundo real. Remete à uma pessoa, uma vida, um sentimento com relação ao q estou bordando. Transcrever um gráfico com dados brutos q despersonaliza as pessoas e seus sentimentos para um suporte artístico delicado como o bordado, que remete às tradições de gerações de artesãs, faz lembrar as vidas afetadas e perdidas nessa trajetória dolorosa da pandemia.

Quando me propus fazer esses gráficos tive algumas dificuldades. Sistematizar os dados confusos liberados nos boletins diários (de março de 2020 até outubro de 2021) e semanais (em novembro de 2021) e dar sentido a esses números. Sou de humanas, né? Outra grande dificuldade foi a de lidar com a realidade atrás dos números. Lembrar o tempo todo que esses números são amigos, familiares, vizinhos, colegas, professores, pessoas queridas por todos, pessoas que a gente pode até não conhecer intimamente, mas sabe quem é, onde mora ou trabalha, cumprimenta quando vê na rua... Esses números são sofrimento. De toda uma cidade. Não quero pensar que são números. Mas precisamos deles. Números, dados, informações para planejar que medidas devem ser tomadas para evitar mais sofrimento.
"Ahhiiimmm, mas não pode ficar trancado dentro de casa, a vida não pode parar, né?" 
A vida de quem?